crônicas da bússola azul – segunda viagem ao sul

e a mulher girou e novamente caiu no descampado celeste. era noite, e havia ainda o fogo. e havia ainda a menina.

e ela lhe apontou as estrelas.

eram muitas.

e disse que era bom esperar. era uma espera preenchida.

então a mulher viu  que era ela, e não a menina, quem havia se perdido. que a imagem desolada do primeiro encontro era pura projeção da parte crescida.

e como quem diz que é verdadeiro seu mundo, ela a levou a sua aldeia. um lugar de casas entre clareiras, onde muitas outras crianças brincavam. um lugar entre as árvores, que certa vez, a mulher lembrou, há muito tempo, havia desenhado – numa tarefa de escola, cujo título era “minha cidade”.

sua cidade era de casas entre árvores, abaixo e no alto dos galhos, casas conectadas por passarelas douradas, por onde se desliza como por anéis de saturno. sua cidade era tecida em espirais, hexágono de colméia, forjada por tecnologia da mata, de mensagens telepáticas, de crianças voadoras, e pequenas luzes amarelas, e pequenas fogueiras, e muitos sorrisos.

então ambas deitaram abraçadas debaixo do céu de estrelas. e a mulher ficou pensando se algum dia, há muitos anos, alguma vez sentiu um abraço de mãe que não era a sua. abraço do seu próprio braço, anos mais tarde, num lugar onde os anos não existiam.

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