um fim
Num dia de mais caminhar errante
deixando, ao sul, um rastro de fio sangrado dos pés,
um vento bateu no já sempre ar cáustico.
Que era esse sopro? – sussurou-lhe à morada,
depois deslocou com leveza o eixo do mapa de suas miragens
livrou-lhe a areia dos olhos,
arranhou-lhe a fina casca das tantas feridas,
revelou a represa.
Então Lauren ficou ali, lavrando um vasto mundo de infinitas perdas.
Lavando a poeira de tantos desertos caminhados
banhando-se de água salgada,
ai, doce acalanto que brota dos cantos de si.
Passou ali algumas eras
era muitas, e tantas dela levavam às costas flores vincadas na carne.
Da miragem, nada restava.
Da promessa, apenas a seca visão de mais pesadelos de sangue e torpor.
Então decidiu: enterrou ali sua esperança.
Com ela, a coleira,
aquela que arrancou do pescoço, antes atada às mãos do diabo.
Enlutou, por três dias, o Cão e a Rosa.
Depois partiu sem partir.
Não buscou novos caminhos.
Não aceitou seu destino inexorável.
Pairou em um não-lugar, paradoxo.
Mas esse não era o rascunho de nova miragem desenhada,
era um profundo desejo de alma gritada.
Ficou ali mergulhada nesse novo sentimento,
nessa nova fonte que jorrava do mais profundo desespero.
Nada mais importava: nem caminhar, nem morrer.
Plantou-se, imóvel, abaixo de sol e estrelas em incansável alternância.
Parou ali.
U-A-U! Sem mais.